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21 de set. de 2010

TEXTO SÉRIO

Bom dia a todos mais uma vez !!!

Como já escrevi na apresentação do “Blog”, o “Salve o Bule” surgiu de um jornal virtual que criei, sendo enviado por e-mail para os colegas de empresa.

A idéia principal do jornal era descontrair o dia de trabalho, com notícias de “fundamental” importância para o futuro da humanidade, imagens divertidas, piadinhas “leves”, entre outros temas.

Porém, criei no jornal uma página diferente do restante, onde era publicado um texto sério, para que todos pudessem refletir.

Assim, publicarei hoje um terceiro “TEXTO SÉRIO”, para pensarmos a respeito...

Boa Leitura !!!

Abs.,

Glauco.

A GENTE SE ACOSTUMA

(Autoria de Marina Colassanti)

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e não ver vista que não sejam as janelas ao redor. E porque não tem vista logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma e não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, se esquece do sol, se esquece do ar, esquece da amplidão.

A gente se acostuma a acordar sobressaltado porque está na hora. A tomar café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder tempo. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E não aceitando as negociações de paz, aceitar ler todo dia de guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: “hoje não posso ir”. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisa tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que se deseja e necessita. E a lutar para ganhar com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar nas ruas e ver cartazes. A abrir as revistas e ler artigos. A ligar a televisão e assistir comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição, às salas fechadas de ar condicionado e ao cheiro de cigarros. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam à luz natural. Às bactérias de água potável. À contaminação da água do mar. À morte lenta dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinhos, a não ter galo de madrugada, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta por perto.

A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta lá.

Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente só molha os pés e sua o resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito que fazer, a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem muito sono atrasado.

A gente se acostuma a não falar na aspereza para preservar a pele. Se acostuma para evitar sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito.

A gente se acostuma para poupar a vida.

Que aos poucos se gasta, e que, de tanto acostumar, se perde de si mesma.

(texto extraído do site “textos_legais.sites.uol” em 21.09.2010)

4 comentários:

Menina das Agulhas disse...

Oi amor,

Acho que não tinha lido esse texto ainda... se tinha lido... me acostumei e penso que esqueci... lindo e perfeito, infelizmente, pois não devíamos nos acostumar com tudo assim, mas, essa é a vida e temos que nos acostumar...
Te amo!!!!
Muito e sempre!!!

Bjs
Lu

Cecilia sfalsin disse...

Glauco,

Bom dia,

Amigo, realmente a vida da gente é uma rotina onde pouco se modifica, e o que se torna rotineiro vamos nos adaptando, nos acostumando, mesmo que seja satisfatório. Infelizmente é assim, mas como é citado no final a gente se acostuma para poupar vida e de tanto acostumar se perde de si mesma...As vezes nos acostumamos tanto que anulamos o nosso modo de viver...
Excelente reflexão

Abraços

Samanta disse...

Olá meu querido amigo, que texto maravilhoso !
Ótima escolha para compartilhar conosco !

O pior é que a gente se acostuma mesmo, vai levando, se maltratando em virtude das necessidades, da conveniência e se não nos dermos conta, acabamos vivendo amassados, amargurados e sem aproveitar a nosso liberdade, prejudicando assim até nosso qualidade de vida !
Fiquei aqui refletindo em algo que aconteceu estes dias, minha mãe veio me visitar e falou : meu deus este sofá está um horror, todo manchado !!!!!
kkkkkkk sabe que eu fiquei até constrangida, mas na verdade, a gente se acostuma com tudo, com a feiúra com as sujeiras externas e internas... precisamos estar sempre alertas para não viver desta forma !!!
Adorei !

Grande abraçoooooooooooo

Babenko disse...

é uma grande verdade esse texto !

( http://www.babenko.com.br )

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